segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
A distância entre nós
Alex e eu sempre fomos ligados de forma inesperada. O menininho falante e bem humorado que me ofereceu um biscoito no primeiro dia do jardim de infância se tornou um rapaz charmoso e elegante e depois um homem despreocupado e cheio de possibilidades. Não posso dizer que somos opostos, mas posso afirmar que somos bem diferentes. O que temos em comum e que talvez tenha nos aproximado é o fato de gostarmos do diferente, do novo, do deslocado. Minha mãe diz que eu e Alex sempre escolhemos "as xícaras lascadas", talvez por também nos sentirmos deslocados e um pouco estranhos. Apesar de ter todas as qualidades para fazer parte do grupo dos populares, Alex sempre se manteve à distância. Ele sorria, acenava, trocava amenidades, mas nunca realmente pertenceu a um grupo. Geralmente ele variava seus acompanhantes, nunca escolhendo um tipo específico de pessoa como companhia. A única que estava sempre com ele era eu, desde o dia em que um Alex em miniatura me ofereceu um biscoito e disse que meus tênis eram bem legais. Eu me lembro de olhar aquele menino sorrindo, com os cabelos caindo nos olhos, todo joelho e cotovelos e pensar "acho que tenho um amigo", assim, de cara. Sabia que nos daríamos bem, sabia que seríamos amigos, sabia que sempre poderia contar com um biscoito, um sorriso, um abraço de Alex. Presenciamos todos os eventos importantes da vida um do outro. Foi no ombro de Alex que chorei quando meu primeiro amor se cansou de mim; foi no meu quarto que um Alex calado e com os olhos estranhamente secos dormiu na noite em que seu primeiro cachorro morreu; foi pra casa dele que corri quando soube que minha avó materna tinha morrido e foi pra mim que ele contou quando perdeu a virgindade com Amelia Hawthorne, que disse que o desempenho de Alex não tinha sido nada satisfatório. Até hoje, independente de quanta rancor eu guarde dele por causa da minha transformação, é em Alex que eu penso quando algo novo acontece. É para Alex que quero ligar quando preciso de um conselho. É por ele que choro todos os dias, quando me lembro de que ele nunca mais estará comigo.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Cânone ou não cânone
Depois de 5 anos, tenho muito para contar. Tanto que me peguei olhando para a tela do notebook sem saber o que escrever. São tantas histórias que poderia preencher facilmente 10 livros, mas decidi estabelecer primeiro o que aprendi nesses anos vivendo entre os vampiros.
Sobre o sangue: sangue é parte essencial de nossa nutrição. É dele que extraímos força, juventude e beleza. Sangue humano, de acordo com vampiros mais dados ao místico e ao oculto, possui qualidades ímpares, retendo uma centelha da alma do doador, sendo mais saboroso e mais nutritivo que sangue animal. De acordo com esses vampiros, o sangue humano é responsável pela força, agilidade, graça e beleza estonteante dos vampiros. Segundo vampiros menos dados ao sobrenatural (sim, eles existem), o sangue humano não possui qualidades especiais, mas como somos de certa forma humanos, esse tipo de sangue é melhor digerido pelos vampiros e portanto gera benefícios quando consumido. Força, agilidade e graciosidade de movimentos podem ser obtidos com o consumo de qualquer tipo de sangue. Não souberam me explicar porquê vampiros se tornam mais belos após a transformação (os místicos me responderam que "Lilith quis fazer de seus filhos os mais belos do mundo"; os céticos reviraram os olhos e me olharam de cima a baixo, certamente pensando que o item "beleza" não foi incluído no meu pacote).
Agilidade e força: vampiros são cerca de 125% mais fortes e mais ágeis que humanos. O veneno que se espalha pelo nosso corpo depois da transformação reveste nossa musculatura fazendo com que ganhemos mais massa muscular. O veneno é também responsável por um aumento absurdo de circulação sanguínea pelo nosso corpo, agitando nosso metabolismo e fazendo, de certa forma (em combinação com maior massa muscular) com que possamos nos mover com maior agilidade.
Educação: vampiros são, em geral, seres muito educados. A longevidade faz com que a maior parte dos vampiros estude muito (chega um momento da "eternidade" que você não tem muito o que fazer, daí a maioria acaba se voltando para os estudos acadêmicos) e tenha conhecimento de várias línguas, culturas e dos mais diversos assuntos. Muitos vampiros inclusive fazem parte do corpo acadêmico de diversas instituições de ensino. A longevidade faz também com que os vampiros tenham hábitos e costumes de épocas mais antigas, o que no começo é um pesadelo para os recém criados. Dica: chame a todos, inicialmente, de senhor e senhora. Quase perdi a cabeça ao chamar, sem ter tido permissão, pelo primeiro nome um vampiro criado por volta de 1830.
Imortalidade: vampiros não são imortais. O vampiro "vivo" mais velho tem cerca de 2000 anos, e os vampiros pesquisadores (sim, existem vampiros especializados no "saber vampírico") estimam entre 1600 e 1900 anos o período médio de vida dos vampiros.
Morte: podemos ser mortos por fogo, decapitação, transpassando nossos corações com madeira (transpassar com outros materiais não nos mata, apenas nos deixa mais fracos). Podemos ainda morrer de "velhice". Como é a morte por velhice? Como qualquer outra morte por velhice, um dia o vampiro simplesmente "para de funcionar" devido ao declínio físico de seu corpo, que se desgasta à uma velocidade extremamente, extremamente MESMO, lenta.
O que acontece quando um vampiro morre: ninguém sabe, nenhum voltou para contar. Os místicos acreditam que vamos para o paraíso, viver na graça de Lilith; os religiosos (sim, eles existem) acreditam que vamos para o Inferno pagar por nossos 1600, 1900 anos de pecados; os céticos acreditam que, assim como os humanos, após a morte vamos todos para o grande vazio.
O que é o "veneno" que os vampiros recebem quando são transformados: um vírus? Uma bactéria? Um veneno mesmo? Muitas teorias, poucas certezas.
Luz do sol: de acordo com os vampiros místicos, somos criaturas da Noite, e portanto a luz solar nos deixa mais sensíveis, mais abatidos e mais fracos. Segundo os vampiros não místicos algo em nosso veneno nos deixa levemente vulneráveis ao sol, trazendo dor de cabeça, estômago fraco e dificuldade de concentração. Nossas peles tendem a reagir à luz solar, deixando nossa coloração levemente diferente, o que às vezes pode chamar a atenção de algum humano. Eu não sofro nenhum tipo de alteração em contato com a luz solar. Não, ninguém sabe o porquê disso.
Alimentação tradicional: vampiros podem comer e beber se ingerirem diariamente sangue de qualquer tipo. O sangue ingerido "alimenta" nosso organismo fazendo com que possamos comer e beber (sim, fazemos nº 1 e nº 2, raramente mas fazemos. Em 5 anos eu usei o banheiro 2 vezes), porém a alimentação humana tende a deixar vampiros bastante enjoados, então a imensa maioria não ingere alimentos e bebidas tradicionais, com exceção do vinho que misturam ao sangue e de alimentos como castanhas e frutas secas. Eu como normalmente, todos os dias. Para onde a comida vai? Não faço a menor ideia, mas pelo visto de tantos em tantos anos ela sairá de mim como sai de você.
Dormir: vampiros não precisam dormir e raramente se sentem cansados. Muitos dormem por hábito. Eu durmo porquê dormir é uma das coisas mais gostosas do mundo.
Sexualidade: existem vampiros heterossexuais, homossexuais, pansexuais, assexuais, bissexuais... e por aí vai. Não é educado perguntar qual é a identidade sexual de um vampiro. Se ele quiser que você saiba, você vai saber pode ter certeza.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Sobre o tempo
Vocês, mortais que passam por aqui, precisam entender que o tempo não passa para nós como passa para vocês. Percebi que estou há mais ou menos 5 anos meses sem postar por aqui. Esses 5 anos me pareceram 5 meses. Ser supostamente imortal faz com que qualquer espaço de tempo, por maior que seja, pareça ínfimo. O que são 5 anos, quando tenho a eternidade (ou não) a perder de vista esparramada na minha frente? Confesso que esse é um dos melhores aspectos em me tornar um, digamos, monstro. Não envelhecer. Não morrer. Não ter que pensar se terei tempo de fazer tudo o que gostaria na vida. Por outro lado, isso diminui e mt a adrenalina de viver (será que devo mesmo usar as palavras "vida" e "viver" ao me referir à minha condição?! ah, o blog é meu mesmo...), fazendo com que tudo seja um pouco desvalorizado... Ver o entardecer perto das pirâmides? Lindo, mas ok, se eu quiser ver de novo daqui a 130 anos, ainda poderei fazê-lo...
Muita coisa aconteceu, mas numa velocidade tão grande, que parece que passei apenas alguns dias fora da cidade, fora da blogosfera, fora da minha vida. Me senti expectadora de tudo o que se passou, como se num instante eu estivesse aqui, sentadinha nessa cadeira, e no momento seguinte eu estivesse em Paris. Depois em Londres. Depois no Cairo. Depois em Moçambique. Tudo num segundo. Como se tivesse acontecido com outra pessoa...
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Blood tradition
Não sabia como me sentir sobre Alex. Sabia que deveria ter raiva dele, mas ao final de algumas horas eu já me sentia a "melhor amiga" de novo. Paris parecia maravilhosa. Se fosse possível, sei que meus olhos teriam brilhado frente à perspectiva de conhecer monumentos, museus, cafés... Mas Alex não perdeu tempo com "bobagens históricas" e sim mergulhou de cabeça no vasto mundo vampírico da cidade. Levado por Emma, Isabelle, Marion e Adele, Alex entrou em contato com a alta sociedade vampírica e começou seu processo de educação.
.
De acordo com ele, os vampiros tem regras bastante rígidas quanto à manter segredo sobre sua existência. Aqueles que interagem demais com os humanos, criando assim a possibilidade de serem descobertos, são frequentemente punidos com a morte. Os vampiros também não deveriam sair criando novos sanguessugas por aí, e era expressamente proibido criar um novo vampiro antes que se tivesse recebido educação suficiente para isso. Alex disse que minha criação por enquanto era um segredo que suas quatro "amigas" queriam manter, uma vez que poderia sobrar para elas... A alimentação deveria ocorrer da forma mais discreta possível. Deveria parecer obra de algum animal selvagem ou coisa que o valha. A regra geral era que eles poderiam se alimentar de sangue humano de tempos em tempos, e não todos os dias para não chamar a atenção. Durante o período sem humanos, alguns vampiros se alimentavam de animais. Outros, mais puristas, se mantinham em jejum, pois consideravam que beber outro tipo de sangue os tornava impuros, e poderia mexer com suas faculdades mentais. Para vampiros com dificuldades de conter seus impulsos de matança, a restrição era eterna: nada de sangue humano fresco para eles; estes se alimentavam de bancos de sangue. Fiquei curiosa sobre quem manteria os vampiros sob estas regras.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Bonne nuit, vampire
Alex se acomodou no sofá e contou sua história. Começou dizendo o quanto tínhamos sido irreponsáveis na minha transformação e como tudo poderia ter dado errado de forma bem sinistra. Resmunguei um "a culpa seria só sua, uma vez que o papo de vamos-ser-vampiros-belos-e-fortes-e-despreocupados-confie-em-mim foi todo seu", ao que Alex soltou um "a idéia foi minha, mas a vontade e o pescoço foram seus". Depois de mais uma troca de farpas deixei que ele continuasse. De acordo com meu pobre amigo, ele ficou bastante assustado com minhas características e com minha falta de habilidade na vida vampírica. As quatro vampiras que o tinham transformado descobriram o que ele tinha feito comigo e ficaram uns dias observando, sem que nos déssemos conta. Depois de constatarem que algo estava errado, elas procuraram Alex e o repreenderam firmemente por sua falta de bom senso (nesse momento da narrativa Alex estremeceu; não pude deixar de pensar o que o "firmemente" significava) ao criar uma nova vampira sem nenhum preparo para isso. Elas pensaram em por um fim em mim, mas devido às minhas particularidades resolveram me deixar viva para ver aonde a história ia dar. De repente eu poderia ser útil (não sei o que minha capacidade de ruborizar poderia valer para elas, mas enfim... antes supostamente necessária do que firmemente transformada em um montinho de cinzas). Elas não me pareceram muito sensatas nessa parte. Sugeriram à Alex me deixar "vivendo às minhas próprias custas, para testar minhas habilidades". De acordo com elas, a falta de jeito, o rubor e a tolerância à comida humana poderiam ser apenas uma fase, e logo logo eu seria uma boa e normal vampirinha. Alex disse que se sentiu estranhamente impelido à acompanhá-las, mesmo que no fundo sentisse que não deveria me deixar sozinha. Fiz uma anotação mental desse comentário.
.
Em Paris, a vida não poderia ser melhor. Caçadas, festas, noitadas. Alex tinha conhecido alguns vampiros excêntricos e ricos, alguns bastante apegados aos prazeres mundanos, outros quase monges. O cardápio de amigos das quatro vampiras era especialmente variado. Alex se encantou com uma vampira libanesa de nome Nagila e tinha passado alguns momentos bem interessantes com ela. O período em Paris também foi de educação. Alex aprendeu sobre a origem e as regras da vida na sociedade vampírica, aprendeu as leis que devem reger seu comportamento e principalmente a se manter incógnito entre os humanos. Contatos com eles deveriam ser breves e espaçados e o melhor mesmo era se fingir de morto...
terça-feira, 25 de agosto de 2009
True blood
Demorei 20 dias para me recuperar da surpresa indigesta de ter um Alex sorridente e relaxado no meu sofá. Mas me recuperei, e vamos aos fatos.
Quando dei de cara com Alex na minha frente, minha vontade foi arrancar a cabeça dele com os dentes. Simples assim. Não sei como tive auto controle suficiente para ficar parada, estática, enquanto ele sorria e se levantava. Mas quando ele resolveu se aventurar com um abraço, não me contive mais. Dei um soco tão forte no peito dele que o maldito caiu de costas na parede. Bem feito, quem mandou bancar o sentimental comigo? Aparecer assim, como se nada tivesse acontecido e esperar um abraço?! Não, obrigada, não trabalhamos com abraços.
Alex se pôs de pé num átimo, e me pediu calma. Calma. Como se fosse possível. Joguei Alex na parede umas quatro vezes. Sabia que não ia machucá-lo, mas precisava extravassar. Depois de um tempo me acalmei. Alex sentou ao meu lado no sofá e colocou a mão no meu ombro. Xinguei não sei quantos palavrões quando isso aconteceu, e quase bati nele de novo. Mas no fundo estava feliz por vê-lo, apesar de tudo. Eu sei, sou uma vampira sentimental.
Depois de um tempo em silêncio Alex começou a falar. Primeiro pediu desculpas. Depois pediu desculpas de novo. Depois pediu perdão. Fiquei de cara amarrada e nem respondi. Preferi perguntar onde diabos ele tinha se metido. Com a cara mais lavado do mundo, ele me respondeu que foi passar uma temporada em Paris com umas "amigas", ou seja, as vampiras que o tinham mordido. Me trocar, vulnerável e recém transformada, por uma voltinha debaixo do Arco do Triunfo?! Não acreditei. Mas isso era típico de Alex. Irresponsável, imaturo, aventureiro. Mulheres, sempre mulheres. Mas não achava que ele chegaria ao extremo de me deixar na mão. Não depois de tantos anos... Seria esse um dos efeitos colaterais de ser vampiro, se transformar em um safado que deixa os amigos na mão? E mais um soco na cara de Alex. Ele resmungou um "eu sei que foi sacanagem" e pediu desculpas pela enésima vez. Dessa vez respondi que não iria perdoá-lo nunca, mas que de repente podíamos no tolerar, em nomes dos velhos tempos, se ele me contasse o porquê dessa excursão para Paris quando eu estava no meio da minha transformação.
Quando dei de cara com Alex na minha frente, minha vontade foi arrancar a cabeça dele com os dentes. Simples assim. Não sei como tive auto controle suficiente para ficar parada, estática, enquanto ele sorria e se levantava. Mas quando ele resolveu se aventurar com um abraço, não me contive mais. Dei um soco tão forte no peito dele que o maldito caiu de costas na parede. Bem feito, quem mandou bancar o sentimental comigo? Aparecer assim, como se nada tivesse acontecido e esperar um abraço?! Não, obrigada, não trabalhamos com abraços.
Alex se pôs de pé num átimo, e me pediu calma. Calma. Como se fosse possível. Joguei Alex na parede umas quatro vezes. Sabia que não ia machucá-lo, mas precisava extravassar. Depois de um tempo me acalmei. Alex sentou ao meu lado no sofá e colocou a mão no meu ombro. Xinguei não sei quantos palavrões quando isso aconteceu, e quase bati nele de novo. Mas no fundo estava feliz por vê-lo, apesar de tudo. Eu sei, sou uma vampira sentimental.
Depois de um tempo em silêncio Alex começou a falar. Primeiro pediu desculpas. Depois pediu desculpas de novo. Depois pediu perdão. Fiquei de cara amarrada e nem respondi. Preferi perguntar onde diabos ele tinha se metido. Com a cara mais lavado do mundo, ele me respondeu que foi passar uma temporada em Paris com umas "amigas", ou seja, as vampiras que o tinham mordido. Me trocar, vulnerável e recém transformada, por uma voltinha debaixo do Arco do Triunfo?! Não acreditei. Mas isso era típico de Alex. Irresponsável, imaturo, aventureiro. Mulheres, sempre mulheres. Mas não achava que ele chegaria ao extremo de me deixar na mão. Não depois de tantos anos... Seria esse um dos efeitos colaterais de ser vampiro, se transformar em um safado que deixa os amigos na mão? E mais um soco na cara de Alex. Ele resmungou um "eu sei que foi sacanagem" e pediu desculpas pela enésima vez. Dessa vez respondi que não iria perdoá-lo nunca, mas que de repente podíamos no tolerar, em nomes dos velhos tempos, se ele me contasse o porquê dessa excursão para Paris quando eu estava no meio da minha transformação.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Surpresas de uma segunda feira
Para uma segunda feira, ontem foi um dia muito agitado.
Começou às 10 da manhã, com meu celular vibrando. Era uma mensagem de Amber, uma amiga que eu não via há mais ou menos 1 ano, me convidando para uma reuniãozinha para comemorar o aniversário dela no Ultra, um barzinho descolado da cidade. Fiquei o dia todo pensando se deveria ou não aparecer, dadas as atuais circunstâncias. Pensa, pensa, pensa, decidi ir. Estava conseguindo enganar meus pais não é? E os vizinhos também! Poderia muito bem enganar Amber e mais meia dúzia de mulheres.
Dei uma saidinha à tarde para comprar um presente para a aniversariante, acabei comprando uma bota nova. A ocasião merecia. Seis meses sem fazer nada de interessante! Não sei como consegui. Não que eu fosse muito baladeira, mas, ei, girls gotta have fun. Estava um pouco ansiosa, e isso me fazia corar o tempo todo(um ótimo acessório para o meu disfarce de humana, isso de corar). Me vesti e fui à luta.
Eu pensava que ia ser uma reunião mais tranquila, amigas numa mesa com champanhe. Mas me enganei. Era uma mega festa só para mulheres, com direito à go-go boys e tudo. Girls gone wild. Amber se mostrou muito feliz com minha presença, e as outras garotas que eu conhecia também. Logo fui apresentada às amigas mais próximas da aniversariante, uma mistura curiosa de mulheres. A ruidosa e calorosa Melanie. A tímida Becky. Ramona, muito alta e muito bonita, parecia uma modelo. Kelly, que parecia obcecada por si mesma e passava por uma fase difícil com Steve, o marido(um completo idiota, pelo que ela contava). E a quieta e observadora Susan. Passei a noite conversando com elas, e foi bom parecer normal. Sentia falta disso, de pessoas, de risadas. Fiquei imaginando por quanto tempo poderia conviver com essas pessoas sem levantar suspeitas sobre meu estado.
Tarde da noite, resolvi ir embora. Me despedi das garotas, e prometi que logo logo nos encontraríamos de novo. Gostei delas, de verdade. Quando me despedi de Susan, ela sussurou em meu ouvido: "Eu sei". Fiquei sem reação. Eu sei o que? Será que ela sabia sobre mim? Queria muito perguntar de que diabos ela estava falando, mas ali não era o momento. Fui para casa completamente grilada com isso. E quando destranco a porta, dou de cara com Alex sorridente no meu sofá. Definitivamente, essa não foi uma segunda feira comum.
Começou às 10 da manhã, com meu celular vibrando. Era uma mensagem de Amber, uma amiga que eu não via há mais ou menos 1 ano, me convidando para uma reuniãozinha para comemorar o aniversário dela no Ultra, um barzinho descolado da cidade. Fiquei o dia todo pensando se deveria ou não aparecer, dadas as atuais circunstâncias. Pensa, pensa, pensa, decidi ir. Estava conseguindo enganar meus pais não é? E os vizinhos também! Poderia muito bem enganar Amber e mais meia dúzia de mulheres.
Dei uma saidinha à tarde para comprar um presente para a aniversariante, acabei comprando uma bota nova. A ocasião merecia. Seis meses sem fazer nada de interessante! Não sei como consegui. Não que eu fosse muito baladeira, mas, ei, girls gotta have fun. Estava um pouco ansiosa, e isso me fazia corar o tempo todo(um ótimo acessório para o meu disfarce de humana, isso de corar). Me vesti e fui à luta.
Eu pensava que ia ser uma reunião mais tranquila, amigas numa mesa com champanhe. Mas me enganei. Era uma mega festa só para mulheres, com direito à go-go boys e tudo. Girls gone wild. Amber se mostrou muito feliz com minha presença, e as outras garotas que eu conhecia também. Logo fui apresentada às amigas mais próximas da aniversariante, uma mistura curiosa de mulheres. A ruidosa e calorosa Melanie. A tímida Becky. Ramona, muito alta e muito bonita, parecia uma modelo. Kelly, que parecia obcecada por si mesma e passava por uma fase difícil com Steve, o marido(um completo idiota, pelo que ela contava). E a quieta e observadora Susan. Passei a noite conversando com elas, e foi bom parecer normal. Sentia falta disso, de pessoas, de risadas. Fiquei imaginando por quanto tempo poderia conviver com essas pessoas sem levantar suspeitas sobre meu estado.
Tarde da noite, resolvi ir embora. Me despedi das garotas, e prometi que logo logo nos encontraríamos de novo. Gostei delas, de verdade. Quando me despedi de Susan, ela sussurou em meu ouvido: "Eu sei". Fiquei sem reação. Eu sei o que? Será que ela sabia sobre mim? Queria muito perguntar de que diabos ela estava falando, mas ali não era o momento. Fui para casa completamente grilada com isso. E quando destranco a porta, dou de cara com Alex sorridente no meu sofá. Definitivamente, essa não foi uma segunda feira comum.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Vampire Weekend
Você sabe o que um vampiro faz no fim de semana? Se for a vampira que vos fala, o fim de semana se resume a roubar umas bolsas de sangue no hospital da cidade, lavar roupas, pedir uma pizza por telefone, ligar para os meus pais e dançar sozinha na sala.
.
Roubar bolsas de sangue não é a coisa mais difícil do mundo. Só é preciso rapidez, e no meu caso, cuidado extra para não cair e esparramar tudo no chão ou ser pega em flagrante. Tomo uma bolsa por dia, e sábado de manhã é dia de fazer a "feira". De manhãzinha eu dou um jeito de me esgueirar pela entrada de serviço do necróterio do hospital. De lá, subo correndo até onde as bolsas de sangue ficam, e aí é só abrir a mochila e fazer as "compras" da semana.
.
Sábado de manhã também é dia de ligar para meus pais. Eu não pretendo parar de manter contato com eles, mesmo isso sendo altamente recomendado (levando em conta que aos 60 eu ainda terei cara de 27). Minha mãe é louca. Uma louca adorável. Ela é a pessoa mais divertida e confiante que eu conheço. Não conseguiria me afastar dela nem que quisesse, e meu pai é tão fofo e amoroso em seus 1,92 de altura que fica difícil não querer sair correndo pra dar um abraço nele. Semana passada fui visitá-los e tive a certeza de que não poderia mesmo parar de falar com eles. Mamãe comentou que estou muito magra, e disse que minhas mãos estão frias. Falei que era por causa do tempo.
.
Para fechar o final de semana, domingo é dia de lavar roupa. Vampiros também precisam de roupas limpas... mas há controvérsias sobre isso. Como não transpiramos, eu poderia usar a mesma roupa vários dias, sem maiores prejuízos. Mas simplesmente não consigo. Eu tomo banho todo dia, então também lavo minhas roupas. Sem contar que, mesmo não dormindo tanto quanto antes, eu adoro ficar na cama vendo tv, e amo o cheiro de roupas recém-lavadas! Depois de um dia no tanque (na máquina de lavar), pedi uma pizza, sentei em frente à tv e fui ver os últimos 3 episódios de Grey´s Anatomy que o Tivo tinha gravado pra mim. Pobre George! Queria que ele virasse vampiro...
.
Roubar bolsas de sangue não é a coisa mais difícil do mundo. Só é preciso rapidez, e no meu caso, cuidado extra para não cair e esparramar tudo no chão ou ser pega em flagrante. Tomo uma bolsa por dia, e sábado de manhã é dia de fazer a "feira". De manhãzinha eu dou um jeito de me esgueirar pela entrada de serviço do necróterio do hospital. De lá, subo correndo até onde as bolsas de sangue ficam, e aí é só abrir a mochila e fazer as "compras" da semana.
.
Sábado de manhã também é dia de ligar para meus pais. Eu não pretendo parar de manter contato com eles, mesmo isso sendo altamente recomendado (levando em conta que aos 60 eu ainda terei cara de 27). Minha mãe é louca. Uma louca adorável. Ela é a pessoa mais divertida e confiante que eu conheço. Não conseguiria me afastar dela nem que quisesse, e meu pai é tão fofo e amoroso em seus 1,92 de altura que fica difícil não querer sair correndo pra dar um abraço nele. Semana passada fui visitá-los e tive a certeza de que não poderia mesmo parar de falar com eles. Mamãe comentou que estou muito magra, e disse que minhas mãos estão frias. Falei que era por causa do tempo.
.
Para fechar o final de semana, domingo é dia de lavar roupa. Vampiros também precisam de roupas limpas... mas há controvérsias sobre isso. Como não transpiramos, eu poderia usar a mesma roupa vários dias, sem maiores prejuízos. Mas simplesmente não consigo. Eu tomo banho todo dia, então também lavo minhas roupas. Sem contar que, mesmo não dormindo tanto quanto antes, eu adoro ficar na cama vendo tv, e amo o cheiro de roupas recém-lavadas! Depois de um dia no tanque (na máquina de lavar), pedi uma pizza, sentei em frente à tv e fui ver os últimos 3 episódios de Grey´s Anatomy que o Tivo tinha gravado pra mim. Pobre George! Queria que ele virasse vampiro...
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Blood daily ou Sobre vampiros e sangue
Ser uma vampira é bem interessante. Pense nas mudanças que eu verei no mundo. A cura da AIDS. A paz entre os povos. A última turnê da Madonna. A ascenção do novo Versace (Gianni era O cara, ninguém fazia vestidos glamourosos como ele). A 64ª temporada de "America´s Next Top Model". Eu tenha a eternidade (não, não tenho, mas vou explicar depois) para participar de coisas importantes. Vou ver a internet 4.0 surgir e morrer. Vou ver os EUA finalmente admitirem que a voltinha do homem na Lua em 1969 foi uma grande mentira. Vou ver os resultados da autópsia de Michael Jackson (que eu acho que sai só no próximo século). E vou ter a eternidade para me acustumar com uma das coisas mais desagradáveis em ser uma vampira: beber sangue.
.
O gosto não é bom. É gelado (ok, quem bebe de presas vivas não tem esse problema...). É viscoço. Tem gosto de água bebida em lata enferrujada. Não-é-bacana. Só bebo sangue para não "morrer" de fome e não andar por aí tendo desmaios de fraqueza (será que isso aconteceria?). Pura sobrevivência. Gosto mesmo é de uma boa pizza (que agora posso comer sem culpa, pois não engordo mesmo), que não me faz mal como faz aos outros coleguinha de imortalidade. Para os outros vampiros o sangue humano é como uma poção mágica. Ajuda a mantê-los belos e fortes. Para mim, depois de seis meses na dieta do canudinho na bolsa de sangue, não notei melhora nenhuma. Continuo extremamente forte, mas a força não aumenta nem diminui. E se quero me sentir bonita, arraso na minha base dourada da Lancôme. Ela sim faz milagres.
One day in the life
Olá! Depois de ler o texto abaixo voce já sabe quem sou eu. Charlie, a vampira. Ou melhor, Charlie-a-vampira-atrapalhada-que-quer-matar-o-ex-melhor-amigo-que-a-criou. Você tem tempo para uma pequena história? Juro que não vai demorar. Tudo bem que para mim NADA demora, uma vez que eu tenho a eternidade para gastar. Mas como sei que você é mortal, não vou me alongar demais nesse post.
.
Eu tenho 27 anos. Sou vampira há exatos 6 meses(parabéns para mim!) e fui transformada por meu amigo Alex, que eu amava como a um irmão mas que no momento eu só penso em dilacerar com minhas mãos(posso ser atrapalhada, mas com certeza sou forte. MUITO forte,). Sempre acreditei no sbrenatural. Já fui wiccana, jurava ter visto fadas e duendes, e tenho certeza de que uma vez já vi um lobisomem, ou no mínimo um lobo anormalmente grande. Vampiros? Já li tudo que podia sobre eles, de Anne Rice à Stephenie Meyer, e sempre tive uma quedinha pelos filhos da noite. Mas eu não imaginava que um deles ia aparecer na minha frente, apesar de ter gostado quando isso aconteceu...
.
Eu e o Alex nos conhecemos desde o jardim de infância. Sempre fomos grudados, melhores amigos, irmãos. Ele é do tipo atlético, e só a Deusa (Nyx, toda poderosa seja) sabe como nós acabamos sendo amigos, porque euzinha não sou nada atlética (por motivos óbvios), adora esportes radicais e vivia querendo me levar com ele para fazer rapel, escalar montanhas e coisas desse tipo. Eu nunca topava, e ele acabava se embreando na mata sozinho. Um dia Alex foi escalar nas montanhas e sumiu. Ficou desaparecido por três meses. Fiquei louca, organizei grupos de busca, espalhei panfletos, até recompensa eu e a família dele oferecemos. Depois de três meses ele voltou, aparentemente ileso, e com sinais do que parecia ser uma amnésia, pois ele contou uma história esquisita de que tinha se perdido. Só isso. Perdido por 3 meses inteirinhos. Alex se comportava normalmente, não parecia ter sofrido nenhum dano sério, exceto por ter decidido abandonar seu emprego em um banco para trabalhar como web designer free lancer, e por ter decidido evitar sair de casa. Eu não entendia o que estava acontecendo com ele, se era mesmo amnésia ou se ele estava escondendo algo. O comportamento dele era normal, mas ao mesmo tempo tinha algo que não batia... Alex era um party boy, gostava de se divertir, gostava do trabalho no banco (mais pelo status do que pelo emprego propriamente dito) e não era de forma alguma o tipo de cara que ficaria em casa no sábado à noite "trabalhando em um projeto".
.
Depois de meses ele finalmente me contou o que realmente tinha acontecido: tinha sido atacado por vampiros nas montanhas. Sobrevivera pois uma das vampiras disse que ele era "muito bonito para morrer". Mas a sobrevivência tinha seu preço, pois agora ele era um vampiro com todas as limitações e privilégios que sua condição dava. Limitações: não contar a ninguém, não comer nem beber (podia comer, mas alimentos o deixavam ligeiramente enjoado, e bebidas acabavam com sua clareza mental), não poder andar à luz do dia (não por medo de se queimar, mas porque sua pele clara demais tinha uma tendência a se tornar arroxeada ao sol), ter que limitar contato com amigos e familiares, pois ele não ia mais envelhecer. Vantagens: Ser extremamente forte, porém gracioso, ficar ainda mais bonito, não envelhecer nem morrer (depois de um tempo descobri que há controvérsias em relação à isso)...
A princípio eu não acreditei. Achei que a amnésia tinha evoluído para loucura, que ele estava traumatizado e estava fantasiando aquilo tudo... Mas logo ele me mostrou o que podia fazer. Caraca! Foi só o que eu pude dizer na hora. Um grande e sonoro caraca!!! Depois do susto comecei a pensar em como seria ... ser como Alex. Não envelhecer. Não se preocupar com coisas como contas. Confesso que nem pensei em minha família na hora. Ser imortal (mais uma vez: há controvérsias) era muito tentador. Alex ficou animado com minha aceitação, e logo propôs me morder.
.
A transformação em si foi uma bagunça, com Alex quase morrendo quando eu, faminta e sem noção, suguei seu braço até deixá-lo jogado inconsciente no chão. Quando eu comecei a me contorcer com a dor do veneno entranhando em meu corpo, Alex ficou observando, esperando ver meus traços mudarem. Mas nada aconteceu na hora, nem nos minutos seguintes, nem nos dias posteriores. Minha pele não se tornou magicamente sem poros, meus olhos não ficaram mais brilhantes, meu cabelo não virou uma cortina de seda... Continuei, infelizmente, a mesma visualmente, apenas uma pouco mais pálida. Devia ter ligado pro serviço de proteção ao consumidor. Propaganda enganosa, é só o que eu tenho a dizer. E todos os livros que eu li? E a Bella que virou quase uma modelo internacional, de acordo com Stephenie Meyer? Queria minha lipo, meu clareamento dental e minha limpeza de pele que deveriam ter vindo junto com o pacote "Imortalidade"! Me senti lesada depois da transformação! Fiquei extremamente forte, mas fora isso, era a mesma Charlie de sempre. Desajeitada, sem um pingo de noção de espaço. Rápida, mas sempre tropeçando em algo e caindo. Um verdadeiro pesadelo eterno.
.
Alex tentou me ensinar a me alimentar de humanos, pois o sangue humano deixava os vampiros mais alertas e mais belos, mas me atrapalhei nas quatro vezes em que tentamos, e Alex teve de agir rápido para que a presa não fugisse gritando. Uma velhinha me bateu com uma sombrinha e doeu de verdade. Sim, vampiros sentem dor, caso você esteja se perguntando. Não acredite em tudo que lê, aprendi isso por experiência própria.
Depois de um mês morando comigo, Alex simplesmente sumiu, sem deixar uma bilhete, sem ligar nem nada. Sem ele para ajudar nas caçadas, tive que começar a roubar, coisa que se minha mãe souber me mata(embora eu teoricamente já esteja morta... ou não. Mais uma vez: não acredite em tudo o que lê.). Roubo sangue de bancos de sangue, e o aqueço no microondas para melhorar o gosto. Como se ser desajeitada e ficar vermelha de forma totalmente antinatural não fosse o bastante, meu paladar não gosta muito de sangue, e eventualmente eu acabo comendo uma pizza para me sentir melhor. Eu sou um paradoxo chato, e depois de reler dezenas de livros de vampiros e constatar que não sou parecida com nenhum deles, resolvi parar de ler e tentar lidar com a imortalidade à minha maneira. Até porque não tem nenhum vampiro bacana batendo em minha porta para ajudar em nada, e meu único amigo vampiro saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou.
Depois de um mês morando comigo, Alex simplesmente sumiu, sem deixar uma bilhete, sem ligar nem nada. Sem ele para ajudar nas caçadas, tive que começar a roubar, coisa que se minha mãe souber me mata(embora eu teoricamente já esteja morta... ou não. Mais uma vez: não acredite em tudo o que lê.). Roubo sangue de bancos de sangue, e o aqueço no microondas para melhorar o gosto. Como se ser desajeitada e ficar vermelha de forma totalmente antinatural não fosse o bastante, meu paladar não gosta muito de sangue, e eventualmente eu acabo comendo uma pizza para me sentir melhor. Eu sou um paradoxo chato, e depois de reler dezenas de livros de vampiros e constatar que não sou parecida com nenhum deles, resolvi parar de ler e tentar lidar com a imortalidade à minha maneira. Até porque não tem nenhum vampiro bacana batendo em minha porta para ajudar em nada, e meu único amigo vampiro saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou.
.
Essa é a história da minha (não) vida até agora. Desculpe por me alongar demais e roubar preciosos minutos da sua vida mortal. Prometo que você será recompensado um dia. Ou não.
Assinar:
Postagens (Atom)