sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Blood tradition

Não sabia como me sentir sobre Alex. Sabia que deveria ter raiva dele, mas ao final de algumas horas eu já me sentia a "melhor amiga" de novo. Paris parecia maravilhosa. Se fosse possível, sei que meus olhos teriam brilhado frente à perspectiva de conhecer monumentos, museus, cafés... Mas Alex não perdeu tempo com "bobagens históricas" e sim mergulhou de cabeça no vasto mundo vampírico da cidade. Levado por Emma, Isabelle, Marion e Adele, Alex entrou em contato com a alta sociedade vampírica e começou seu processo de educação.
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De acordo com ele, os vampiros tem regras bastante rígidas quanto à manter segredo sobre sua existência. Aqueles que interagem demais com os humanos, criando assim a possibilidade de serem descobertos, são frequentemente punidos com a morte. Os vampiros também não deveriam sair criando novos sanguessugas por aí, e era expressamente proibido criar um novo vampiro antes que se tivesse recebido educação suficiente para isso. Alex disse que minha criação por enquanto era um segredo que suas quatro "amigas" queriam manter, uma vez que poderia sobrar para elas... A alimentação deveria ocorrer da forma mais discreta possível. Deveria parecer obra de algum animal selvagem ou coisa que o valha. A regra geral era que eles poderiam se alimentar de sangue humano de tempos em tempos, e não todos os dias para não chamar a atenção. Durante o período sem humanos, alguns vampiros se alimentavam de animais. Outros, mais puristas, se mantinham em jejum, pois consideravam que beber outro tipo de sangue os tornava impuros, e poderia mexer com suas faculdades mentais. Para vampiros com dificuldades de conter seus impulsos de matança, a restrição era eterna: nada de sangue humano fresco para eles; estes se alimentavam de bancos de sangue. Fiquei curiosa sobre quem manteria os vampiros sob estas regras.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bonne nuit, vampire

Alex se acomodou no sofá e contou sua história. Começou dizendo o quanto tínhamos sido irreponsáveis na minha transformação e como tudo poderia ter dado errado de forma bem sinistra. Resmunguei um "a culpa seria só sua, uma vez que o papo de vamos-ser-vampiros-belos-e-fortes-e-despreocupados-confie-em-mim foi todo seu", ao que Alex soltou um "a idéia foi minha, mas a vontade e o pescoço foram seus". Depois de mais uma troca de farpas deixei que ele continuasse. De acordo com meu pobre amigo, ele ficou bastante assustado com minhas características e com minha falta de habilidade na vida vampírica. As quatro vampiras que o tinham transformado descobriram o que ele tinha feito comigo e ficaram uns dias observando, sem que nos déssemos conta. Depois de constatarem que algo estava errado, elas procuraram Alex e o repreenderam firmemente por sua falta de bom senso (nesse momento da narrativa Alex estremeceu; não pude deixar de pensar o que o "firmemente" significava) ao criar uma nova vampira sem nenhum preparo para isso. Elas pensaram em por um fim em mim, mas devido às minhas particularidades resolveram me deixar viva para ver aonde a história ia dar. De repente eu poderia ser útil (não sei o que minha capacidade de ruborizar poderia valer para elas, mas enfim... antes supostamente necessária do que firmemente transformada em um montinho de cinzas). Elas não me pareceram muito sensatas nessa parte. Sugeriram à Alex me deixar "vivendo às minhas próprias custas, para testar minhas habilidades". De acordo com elas, a falta de jeito, o rubor e a tolerância à comida humana poderiam ser apenas uma fase, e logo logo eu seria uma boa e normal vampirinha. Alex disse que se sentiu estranhamente impelido à acompanhá-las, mesmo que no fundo sentisse que não deveria me deixar sozinha. Fiz uma anotação mental desse comentário.
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Em Paris, a vida não poderia ser melhor. Caçadas, festas, noitadas. Alex tinha conhecido alguns vampiros excêntricos e ricos, alguns bastante apegados aos prazeres mundanos, outros quase monges. O cardápio de amigos das quatro vampiras era especialmente variado. Alex se encantou com uma vampira libanesa de nome Nagila e tinha passado alguns momentos bem interessantes com ela. O período em Paris também foi de educação. Alex aprendeu sobre a origem e as regras da vida na sociedade vampírica, aprendeu as leis que devem reger seu comportamento e principalmente a se manter incógnito entre os humanos. Contatos com eles deveriam ser breves e espaçados e o melhor mesmo era se fingir de morto...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

True blood

Demorei 20 dias para me recuperar da surpresa indigesta de ter um Alex sorridente e relaxado no meu sofá. Mas me recuperei, e vamos aos fatos.

Quando dei de cara com Alex na minha frente, minha vontade foi arrancar a cabeça dele com os dentes. Simples assim. Não sei como tive auto controle suficiente para ficar parada, estática, enquanto ele sorria e se levantava. Mas quando ele resolveu se aventurar com um abraço, não me contive mais. Dei um soco tão forte no peito dele que o maldito caiu de costas na parede. Bem feito, quem mandou bancar o sentimental comigo? Aparecer assim, como se nada tivesse acontecido e esperar um abraço?! Não, obrigada, não trabalhamos com abraços.

Alex se pôs de pé num átimo, e me pediu calma. Calma. Como se fosse possível. Joguei Alex na parede umas quatro vezes. Sabia que não ia machucá-lo, mas precisava extravassar. Depois de um tempo me acalmei. Alex sentou ao meu lado no sofá e colocou a mão no meu ombro. Xinguei não sei quantos palavrões quando isso aconteceu, e quase bati nele de novo. Mas no fundo estava feliz por vê-lo, apesar de tudo. Eu sei, sou uma vampira sentimental.

Depois de um tempo em silêncio Alex começou a falar. Primeiro pediu desculpas. Depois pediu desculpas de novo. Depois pediu perdão. Fiquei de cara amarrada e nem respondi. Preferi perguntar onde diabos ele tinha se metido. Com a cara mais lavado do mundo, ele me respondeu que foi passar uma temporada em Paris com umas "amigas", ou seja, as vampiras que o tinham mordido. Me trocar, vulnerável e recém transformada, por uma voltinha debaixo do Arco do Triunfo?! Não acreditei. Mas isso era típico de Alex. Irresponsável, imaturo, aventureiro. Mulheres, sempre mulheres. Mas não achava que ele chegaria ao extremo de me deixar na mão. Não depois de tantos anos... Seria esse um dos efeitos colaterais de ser vampiro, se transformar em um safado que deixa os amigos na mão? E mais um soco na cara de Alex. Ele resmungou um "eu sei que foi sacanagem" e pediu desculpas pela enésima vez. Dessa vez respondi que não iria perdoá-lo nunca, mas que de repente podíamos no tolerar, em nomes dos velhos tempos, se ele me contasse o porquê dessa excursão para Paris quando eu estava no meio da minha transformação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Surpresas de uma segunda feira

Para uma segunda feira, ontem foi um dia muito agitado.

Começou às 10 da manhã, com meu celular vibrando. Era uma mensagem de Amber, uma amiga que eu não via há mais ou menos 1 ano, me convidando para uma reuniãozinha para comemorar o aniversário dela no Ultra, um barzinho descolado da cidade. Fiquei o dia todo pensando se deveria ou não aparecer, dadas as atuais circunstâncias. Pensa, pensa, pensa, decidi ir. Estava conseguindo enganar meus pais não é? E os vizinhos também! Poderia muito bem enganar Amber e mais meia dúzia de mulheres.

Dei uma saidinha à tarde para comprar um presente para a aniversariante, acabei comprando uma bota nova. A ocasião merecia. Seis meses sem fazer nada de interessante! Não sei como consegui. Não que eu fosse muito baladeira, mas, ei, girls gotta have fun. Estava um pouco ansiosa, e isso me fazia corar o tempo todo(um ótimo acessório para o meu disfarce de humana, isso de corar). Me vesti e fui à luta.

Eu pensava que ia ser uma reunião mais tranquila, amigas numa mesa com champanhe. Mas me enganei. Era uma mega festa só para mulheres, com direito à go-go boys e tudo. Girls gone wild. Amber se mostrou muito feliz com minha presença, e as outras garotas que eu conhecia também. Logo fui apresentada às amigas mais próximas da aniversariante, uma mistura curiosa de mulheres. A ruidosa e calorosa Melanie. A tímida Becky. Ramona, muito alta e muito bonita, parecia uma modelo. Kelly, que parecia obcecada por si mesma e passava por uma fase difícil com Steve, o marido(um completo idiota, pelo que ela contava). E a quieta e observadora Susan. Passei a noite conversando com elas, e foi bom parecer normal. Sentia falta disso, de pessoas, de risadas. Fiquei imaginando por quanto tempo poderia conviver com essas pessoas sem levantar suspeitas sobre meu estado.

Tarde da noite, resolvi ir embora. Me despedi das garotas, e prometi que logo logo nos encontraríamos de novo. Gostei delas, de verdade. Quando me despedi de Susan, ela sussurou em meu ouvido: "Eu sei". Fiquei sem reação. Eu sei o que? Será que ela sabia sobre mim? Queria muito perguntar de que diabos ela estava falando, mas ali não era o momento. Fui para casa completamente grilada com isso. E quando destranco a porta, dou de cara com Alex sorridente no meu sofá. Definitivamente, essa não foi uma segunda feira comum.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vampire Weekend

Você sabe o que um vampiro faz no fim de semana? Se for a vampira que vos fala, o fim de semana se resume a roubar umas bolsas de sangue no hospital da cidade, lavar roupas, pedir uma pizza por telefone, ligar para os meus pais e dançar sozinha na sala.
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Roubar bolsas de sangue não é a coisa mais difícil do mundo. Só é preciso rapidez, e no meu caso, cuidado extra para não cair e esparramar tudo no chão ou ser pega em flagrante. Tomo uma bolsa por dia, e sábado de manhã é dia de fazer a "feira". De manhãzinha eu dou um jeito de me esgueirar pela entrada de serviço do necróterio do hospital. De lá, subo correndo até onde as bolsas de sangue ficam, e aí é só abrir a mochila e fazer as "compras" da semana.
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Sábado de manhã também é dia de ligar para meus pais. Eu não pretendo parar de manter contato com eles, mesmo isso sendo altamente recomendado (levando em conta que aos 60 eu ainda terei cara de 27). Minha mãe é louca. Uma louca adorável. Ela é a pessoa mais divertida e confiante que eu conheço. Não conseguiria me afastar dela nem que quisesse, e meu pai é tão fofo e amoroso em seus 1,92 de altura que fica difícil não querer sair correndo pra dar um abraço nele. Semana passada fui visitá-los e tive a certeza de que não poderia mesmo parar de falar com eles. Mamãe comentou que estou muito magra, e disse que minhas mãos estão frias. Falei que era por causa do tempo.
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Para fechar o final de semana, domingo é dia de lavar roupa. Vampiros também precisam de roupas limpas... mas há controvérsias sobre isso. Como não transpiramos, eu poderia usar a mesma roupa vários dias, sem maiores prejuízos. Mas simplesmente não consigo. Eu tomo banho todo dia, então também lavo minhas roupas. Sem contar que, mesmo não dormindo tanto quanto antes, eu adoro ficar na cama vendo tv, e amo o cheiro de roupas recém-lavadas! Depois de um dia no tanque (na máquina de lavar), pedi uma pizza, sentei em frente à tv e fui ver os últimos 3 episódios de Grey´s Anatomy que o Tivo tinha gravado pra mim. Pobre George! Queria que ele virasse vampiro...